Não sei se porque fazia muito tempo que não lia a O2, mas me pareceu que a edição deste mês está bem melhor, com uma série de boas matérias.
Na verdade, havia horas que sentia uma certa raiva da revista até, por isso que parei de ler. Porque não era para corredor normal, para mim. Era para riquinho paulista. Playboy que começou a correr ontem e que só o faz porque está na moda correr, ser saudável. Aí entrevistavam alguém e na legenda estava "fulano de tal, empresário, correu 5 vezes em Nova Iorque e 2 em Boston." "siclana, arquitet,a, correu 2 vezes em Paris, 1 em Chicago." Ah, tá, maratona no Brasil não vale no currículo? Tudo bem, alguém tem que patrocinar a revista, pagá-la.
Ma isso me soava como uma arrogância, uma zombaria com quem corre maratona. Grande boston fazer uma maratona em Boston. Eu nunca faria. Fiz maratona em Mônaco, Florença e Amsterdam e não fico arrotando por causa disso. Tenho muito orgulho das maratonas que fiz no Brasil. Maratona tem 42 km 195 metros aqui, em Nova Iorque, Paris ou na puta-que-pariu. Não importa onde a gente faz, maratona é maratona. Quero ver é o tempo nessas maratonas. Se correram mesmo ou se foram só passear. Porque eu olho o resultado desse povo todo depois e os tempos são de chorar. Eu nem sabia direito o que era uma maratona quando fiz pela primeira vez, caminhei desde o km 15 e terminei em 5h02. Pois tem gente com assessoria, treinador, tênis top dos tops que chega depois disso. Com todo o respeito, vamos treinar, né!
Bem, voltando ao assunto inicial, a revista de julho têm umas matérias bem legais, como "Corra no ritmo ideal", que aborda aquilo sobre o que já falei por aqui, que é o fato de a gente ter que conhecer o corpo e correr naquilo que ele aguenta, mas constantentemente, ou seja, se vou fazer 10 km em 45 minutos, com 4:30/km, é nesse ritmo que tenho que sair, não é mais forte. Outra matéria interessante é "Corrida contra a balança", que explica um pouco porque às vezes a gente não emagrece simplesmente só pelo fato de correr. Há uma outra sobre treinar descalço para dar maior flexibilidade aos pés e, com isso, melhorar o desempenho nas corridas, outra sobre correr com cachorros (por incrível que pareça, tem gente sem noção que os leva para competições), uma sobre ir ao banheiro no meio da corrida, dentre tantas que merecem destaque. Ah, e uma do Marcos Caetano (da ESPN Brasil) sobre tênis como ícones de consumo.
Mas tem uma que fez pensar em escrever esse post, que é uma entrevista com o inglês vencedor do concurso de "melhor emprego do mundo", aquele da ilha paradisíaca na Austrália. Pois aí lembrei que muito corredor tem mania patológica de aumentar ou inventar umas coisas. Nunca estão treinados ou sempre estão com dor em algum lugar, ou seja, dando desculpa para algum eventual insucesso.
Pois o inglês disse (e publicaram) que, perto da Comrades (a ultra africana de 87 km), "se deu conta" que o último treino de corrida dele havia sido há 6 semanas! Alto lá! Para o mundo que eu quero descer! Então ele estava há 1 mês e meio sem correr? Depois ainda "lembrou" que só havia feito 10 treinos entre janeiro e junho, ou seja, 10 treinos em 180 dias! A cada 18 dias ele corria uma vez. Tá bom, pinóquio. Conta outra. Quando ele treinar então, vai bater o recorde mundial da maratona, fácil, fácil. E completou com "graças ao meu duro trabalho mental que consegui terminar as provas." Ok, ok, eu defendo que a questão psicológica é fundamental numa maratona (ou ultra), mas não tem mentalização que suporte tanta falta de treino.
Então, boa parte da entrevista dele chega a ser cômica, entra mais na questão de folclore de corredor, porque não dá para levar a sério quando ele diz, por exemplo, que a namorada ajudou "muito", da melhor maneira possível: ficava na metade do percurso e dava um beijo na hora em que as coisas estavam ficando difíceis... Acho que ele levou bem a sério aquelas coisas que as mães dizem quando somos pequenos: se beijar, sara...
Assim, depois de completar uma maratona, pense bem antes de dizer que não sofreu, que não está sentindo dores, que não treinou quase nada, que nunca desceu uma escada de lado, porque vai ser difícil de acreditar, e seremos obrigados a chamar o seu Gepetto para dar um jeito em você.
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