segunda-feira, 17 de maio de 2010

Maratona de Porto Alegre, domingo


Domingo, teremos a maratona de Porto Alegre.

Embora não exista uma fórmula para fazer bem uma, assim como não há fórmula para o sucesso, algumas coisas são básicas e devem ser levadas em consideração.

Uma delas é dormir bem durante a semana. Lógico que há sempre um componente de ansiedade, nervosismo, pressão antes de uma maratona. Isso acontece até com quem já completou 37 maratonas (e não completou outras duas) , como eu. Mas é fundamental dormir bem. Deitar na cama e desligar. Ou pelo menos tentar. Se a gente fica pensando nas coisas, aí mesmo que o sono não vem de jeito algum. E cansado por ter dormido pouco, ninguém fará uma boa prova.

Durante muito tempo, talvez uns 10 anos, não terminava correndo as provas. Em 1994, terminei em 3h20, e caminhei no quilômetro 40. Uma idiotice, se formos pensar hoje. Era uma época amadora ainda, informações restritas, muito entusiasmo e pouca sabedoria da minha parte. Numa dessas maratonas, fiz a primeira metade em 1h30. Mantido o ritmo, teria sido meu melhor tempo na história. Mas não havia como manter, pois foi um erro de estratégia.

Se existe um segredo numa maratona, assim como em qualquer prova, é a regularidade. Se eu sei e acho que vou fazer em 3h30, numa média de 5min/km, não adianta me entusiasmar, por estar me sentindo
momentaneamente bem, e ficar correndo a 4:45/km. Não existe mágica. Ali na frente, o corpo vai cobrar essa diferença que parece pouca de 15s por quilômetro, mas não é: isso são 10 minutos no tempo total.

Ah, mas eu estava me sentindo bem, por isso andei a 4:45... Evidente, estamos treinados para uma maratona, vai dar para correr a 4:45 um bom tempo, mas quando não der mais... a casa cai. E cai com tudo.

Até achar o 'caminho das pedras', em 2001, com 3h11, inúmeras vezes errei pelo ímpeto desmedido. Mesmo nessa maratona em que quebrei meu recorde, cometi erros. Saí forte até onde agüentei e depois 'quebrei', só que eu quis correr o risco, porque sabia que iria estabelecer uma nova marca.

Outra questão chave é a parte psicológica. E são duas partes. A primeira é estar confiante antes de a prova começar. Confiante, mas não auto-suficiente. E jamais pessimista ou desesperançoso. "Treinei menos do que queria". Azar! Vamos fazer o que treinamos, então! Se não imaginarmos que iremos fazer uma boa prova, certamente não faremos.

A segunda parte é lidar com o sofrimento depois do km 30 e poucos. Porque todo mundo vai sentir o esforço numa hora da prova. Eu normalmente sinto lá pelo km 36. É onde o ritmo cai um pouco (ou bastante... 2 vezes no Rio, por exemplo). E é preciso saber administrar isso. Muita coisa dói no corpo, o cansaço é inevitável e a vontade de caminhar também. E não dá para deixar que ela vença a nossa vontade de terminar a prova, e logo. Não importa se outros estão caminhando também. Foi porque erraram em algum momento da estratégia. Saíram forte demais. Há estatísticas que dizem que 80% dos corredores saem mais forte do que deveriam!

Puxa, maratona já é, de certa forma, um sofrimento. Por mais que estejamos treinados, correr 3h e tanto desgasta qualquer um. E se a gente erra, sofre mais ainda.

É preciso saber se conhecer, saber o que o nosso corpo pode ou não. Os treinos servem justamente prá isso. Para a gente errar e aprender.

Porto Alegre é a melhor maratona do Brasil. É aqui que se deve debutar, é aqui onde é possível se obter a melhor marca, em função do relevo e da temperatura. Quanto a ela, ainda é uma incógnita nessa semana final. Está fresquinho, 14 graus pela manhã, mas pode abrir sol e esquentar, o que seria um desgaste a mais para aqueles que correrão.

Outra coisa que não se pode prescindir é a hidratação e a reposição dos carboidratos. Sempre levo 3 ou 4 sachês de carboidratos em gel, e tomo, a princípio, no km 12, no 22, no 32, e o outro é um coringa, se for preciso readaptar esse planejamento. Tomar água em todos os postos, mesmo que seja só um pouquinho, jogar na cabeça e no resto do corpo (ajuda a baixar a temperatura), tudo isso não pode ser esquecido. E a vaselina nas partes que podem gerar atrito e tornar a corrida desconfortável depois de um certo tempo. Lógico que, se o tempo esquentar demais, é preciso rever tudo isso e se adaptar.

Gosto de dividir sempre a maratona em 3 partes de 14km. Dá para ter uma noção de quanto vai ser o tempo final e, assim, ao passar pelo primeiro período, tenho uma parcial e, depois comparo com a segunda parte, que, necessariamente, tem que estar bem próxima, afinal, maratona, acima de tudo é constância. Depois, o resto, é uma contagem regressiva. E ela tem que ser otimista.

Lá pelos trinta e poucos, multiplico os quilômetros por 5 minutos (no caso, meu ritmo) e começo a mentalizar: “Faltam quarenta minutos. Falta meia-hora.” Pode ser que eu não consiga manter a média de 5min/km, e, muitas vezes, não consigo mesmo, mas não é essa a questão. O fato é esquecer que já se passaram 30,35 quilômetros, e que falta pouco, muito pouco para completar um objetivo que foi traçado há algum tempo e que demandou um considerável esforço de nossa parte. E a gente tem que ser forte, porque não existe prazer sem algum tipo de sofrimento.

Queria ter treinado um pouco mais, para tentar fazer a prova abaixo de 3h20, o que não será possível, já que os primeiros 4 meses foram uma loucura de trabalho aqui no escritório. Não foi só a falta de treino, mas também de foco, porque não conseguia me desligar dos problemas. Mas azar, em outubro, no feriadão do dia das crianças, tem a Maratona de Buenos Aires, para a qual já estou inscrito. E as fichas estarão depositadas naquela prova. É para ela que treinarei forte. Domingo agora, o jeito vai ser sair a 5min/km até a metade da prova e depois ver se dá para acelerar e terminar bem. A ideia é este corredor de número 133 cruzar a linha de chegada em 3h25. O que der abaixo disso é lucro e me deixará bem contente. Mas, claro, tem que haver uma conspiração positiva do tempo, meu principal aliado (ou inimigo).

Nessa edição, vai ter muita gente da nossa equipe dando suporte com bikes durante o trajeto, no projeto que denominamos "Adote um maratonista." Creio que isso ajudará muitos corredores nem tão experientes ou que estejam começando.

E, se o tempo colaborar com um friozinho, pouca umidade e vento, semana que vem estarei aqui contando que tudo certo para todo mundo. Tomara.

8 Comentários:

Jorge Cerqueira disse...

Fala Julião, blz camarada, olha, pense em Deus e positivamente que vc conseguirá driblar mole, essa maratona de POA, estarei na torcida por vc.
Depois nos conte como foi.

Um abraço e bons treinos,

Jorge Cerqueira
www.jmaratona.com

Unknown disse...

Ótimas dicas. Estarei aí para minha quarta maratona, a primeira em Porto Alegre. E vou procurar me lembrar delas. Obrigado por elas e uma ótima prova no domingo.

Um abraço,

Fábio Namiuti
http://www.fabionamiuti.hd1.com.br

BALEIAS disse...

Olá Júlio. Gostei das considerações. Estou num patamar de tempo bem pior que o seu mas o que de fato me arrebenta é essa falta de regularidade e/ou constância. Como sei que no final vai ser difícil minha tendência é sair mais forte para ver o que dá para fazer. Depois, para complementar o que você disse, sugiro que faça um registro contando sobre os treinos para atingir essa regularidade para que a gente possa juntar os dois temas e melhorar para a maratona. Gostei muito, obrigado. Miguel Delgado.

JC Baldi disse...

Jorge, fera, valeu pela força.
Vai dar tudo certo. A gente sempre sobrevive.

Fábio,
Boa sorte por aqui. Temperatura boa, percurso quase todo plano. Terás uma boa oportunidade de melhorar tempo e sair satisfeito.

Miguelito,
Tudo é uma questão de treinar. Costumo tentar sempre forçar no final dos meus treinos. Ter gás prá chegar melhor do que larguei. Isso acostuma a gente. Mas é preciso tbém ter cabeça prá saber que está "confortável" no começo prá não ficar sofrido depois. Nunca dá certo sair mais forte, acredite. Qdo as forças acabam, a gente desaba. Pq não é um "tirinho" de 5, 10 minutos. São 3, 4h...

Sábado retrasado, fiz 27km. Os primeiros 9 foram na média de 5:15. Os últimos 9 foram 4:36, 4:28...

Domingo agora, saí tranquilo com todo mundo. Corremos 9,5 e voltamos. A ida foi a 5:15, a volta 4:39 o tempo todo e o último a 4:15.

Lógico que tem dia que eu saio e morro no final, não consigo manter, muito menos melhorar, mas é preciso acostumar o corpo a acelerar depois da metade. Prá isso as provas de 10km ajudam bastante. Faço isso nelas tbém. Dificilmente minha segunda metade é pior que a primeira.

Como disse, é tudo uma questão de ir se adaptando.

Nos falamos por aqui, não?

Tiago Antunes disse...

Ótimo texto e espero que te saias bem na maratona, abraço!

Bruninha disse...

Baldi, adorei o texto e prometo que seguirei tuas dicas, principalmente a da estratégia do tempo...hehehe (não te preocupa que a Bina vai estar junto comigo, me controlando). Não preciso nem dizer que já estou até com dor de barriga, né?
A primeira a gente nunca esquece, certo?? hehehe
De coração, estarei torcendo por ti!!!
Bjão e lá vamos nós

JC Baldi disse...

Tiago,
Tbém espero que eu vá bem...hehe


Bruna,
Quero só ver se vai ser primeira e única mesmo...

Ricardo Hoffmann disse...

Muito bom texto, parabéns! E uma ótima prova para nós.

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