segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Depois de tomar 2 comprimidos de paracetamol durante o dia de sábado e acordar às 3h45 no domingo, às 5h10 aguardava o ônibus da organização que passaria no Hotel Tarobá, onde eu e grande parte da elite (Adriano Bastos, Claudir Rodrigues, Marcos Pereira - o vencedor, José Everaldo - segundo colocado, a queniana que venceu - Jacqueline Chebor, Marluce, Ilaine, Rosa) estávamos hospedados.
Era "noite" ainda, mas estava quente, como de resto seria o dia. Rumamos para o Sesc, onde pegamos outro ônibus (não me perguntem o porquê) em direção a Itaipu, onde foi a largada. Lá, em compensação, tinha uma ventania absurda. Mas foi só antes de largar, porque depois...
(Irio, eu, Maria Helena, Domiciana e Zé Luiz)
Às 7h foi dada a largada e, caramba, saiu todo mundo alucinado como se fosse prova de 10km, talvez porque fosse descida no primeiro km. Fiquei na minha, fazendo pouquinha coisa menos de 5:30/km, que era a ideia inicial: terminar mais ou menos em 3h50. Doce ilusão. Conversando no hotel com a Ilaine, querendo saber mais sobre a prova, ela diz que ali era beeem mais difícil que em Curitiba, maratona considerada com bom grau de dificuldade.
Pois bem, os primeiros quilômetros eram dentro de Itaipu, com subidas e descidas, enquanto o sol já começava a aparecer com força. De lá, íamos para o centro da cidade, e tudo parecia relativamente tranquilo. Quero dizer, se não estava fácil, pelo menos não era super difícil, porque, se havia uma subida, a descida vinha em seguida, momento em que dava para descansar. Afinal de contas, tudo que sobe, desce.
Pouco depois do km 16, por exemplo, olhamos para frente e saiu o primeiro "nossa mãe" do percurso: uma mega subida, que visualmente assustou mais que na prática, e que, bem no seu cume, era o km 17. Mais ou menos 1km depois, entramos em uma subida mais forte ainda, que fiz em 6:25 e que fechava no km 19. Acho que foi por aí que meu companheiro de MM João Gabbardo me passou.
Bem, como disse, tudo que sobe, desce, e então começamos uma boa descida, já na Av. das Cataratas, com novas pequenas subidas até chegar no km 21, que também era na descida. Ali, passei em 1h56, dentro do previsto. E ali, também, avistei o Claudir Rodrigues, vencedor da Maratona de São Paulo, Curitiba e 3 vezes de Porto Alegre. Havia desistido. Depois, conversando com ele no hotel, disse que não aguentou o calor. Para quem estava treinando no frio e na chuva em Santa Maria, fica difícil para o organismo assimilar a diferença. (Durante o decorrer da semana, vou postar o resto da conversa com ele, sobre a dura realidade da vida de um corredor.)
Logo depois de um posto de água, acho que km 25, quando levantei a cabeça e avistei o que se avizinhava, saiu o segundo "nossa mãe". Outra subida fortíssima, mais longa que no 17. Pensei: "Vamos enfrentar a fera, fazer o que..." Quando cheguei nela, km 27, dou de cara (é modo de dizer, já que ele está de costas...) com o Irio, caminhando. Disse que estava sentindo muita dor na panturrilha. Mas isso não o impediu de me acompanhar, porque ele é "competitivo..." Aí ele ficava correndo uns metrinhos na minha frente ou puxava em alguma lomba/subida/ladeira/morro (cada região chama de um jeito). Aí eu chegava nele novamente e a história se repetia. Foram 7km nessa brincadeira. Isso rendeu uma boa discussão no final da prova...
Bem, acho que no 28 era o pórtico de entrada do Parque Nacional do Iguaçu, onde ficam as Cataratas. A partir dele, foi sofrimento sem fim. Verdade que, durante um bom tempo, até deu para correr numa boa, mas aí comecei a esperar a descidinha que nunca vinha e o corpo começou a sentir os efeitos da falta de descanso. Mesmo porque o ritmo começou a cair, até nem tanto pelo cansaço, mas mais pelo fato de estar subindo ininterruptamente. Também não vou ser completamente injusto: lá pelo km 36 devia ter uns 250m de descida, mas a essa altura do campeonato...
A essa altura do campeonato, chegar em 4h já era impossível, porque bastava fazer uma continha básica de cabeça (km x minutos) que eu via que não haveria como. No 38, dei uma pausa nesse sofrimento e resolvi caminhar. Ainda mais depois que alguém me disse que não haveria descida mesmo. Acho que nem tanto por causa das pernas, mas estava com muita dor nas costas de correr curvado pela subida. Pelo menos caminhar, mesmo cansado, eu caminho ligeirinho. Estava fazendo em 8:30/km. E fazia tempo que isso não acontecia numa maratona. Aliás, para ser mais preciso, desde novembro de 2002, na Maratona de Curitiba, não caminhava, nem completava uma maratona acima de 4h. E lá se foram 17 maratonas nesse período. E eu treinei subidas aqui em Porto Alegre. Terças e quintas sempre era isso. Só que eram treinos de 12 ou 18km. E lá em Foz foram 42km de subidas... He he.
Pouco depois que comecei a caminhar, o Irio chegou em mim novamente e fomos um pequeno pedaço juntos, só que ele quis correr novamente e eu não topei... 5 minutos a mais ou a menos não iriam me fazer diferença. Tinha uma meta que não foi cumprida mesmo. Sem falar que estava muito irritado por conta daqueles 7km em que " corremos" juntos. Aí disse: "Vai, que eu não vou." Lá pelo 40, encontro a Domiciana Gomes, treinadora do casal de amigos do Rio, da Marluce (3ª colocada) e ex-atleta de elite, que me deu um isotônico (quente, àquela hora, mas ela me avisou). Perguntou pela Maria Helena, que me alcançou no km 41,5, e ambas acabaram me incentivando a voltar a correr, e terminamos juntos, eu e a Lelê, em 4:16:23. O Irio acabou fechando em 4h10. O Zé Luiz, marido da Lelê, em 3h45. E treinando só em esteira...
A área de dispersão, infelizmente, tinha umas 20 abelhas por m², o que gerou um certo incômodo nos corredores, que precisavam se desvencilhar delas o tempo todo. Aguentei o que as abelhas deixaram, tiramos umas fotos nas Cataratas e voltamos para o hotel, onde o comentário mais recorrente era: "Ano que vem eu não volto..."
Uma pena o calor e o percurso, porque a estrutura que o Sesc do Paraná montou para a prova foi simplesmente fantástico. No começo, havia água no 4, 6, 8, 10 e lá no final acho que também era de 2 em 2. As pessoas envolvidas estavam comprometidas com o evento, trabalhando com prazer e tentando solucionar todas as questões que apareciam, com muito boa vontade e presteza. Fiquei realmente impressionado com isso e fiz questão de externar meu sentimento junto à organização, porque, nós corredores, temos mania de reclamar de tudo, sem nunca dar um elogio, e ali eles realmente mereceram muitos elogios. Claro que alguns equívocos foram cometidos, como a fila para a retirada do kit, por conta de uma única banca centralizadora ao invés de várias divididas do número "0 a 100, 101 a 200...", mas mesmo assim, eles entenderam muito bem isso e outras pequenas questões e sempre ressaltaram que querem fazer uma prova cada vez melhor e que estavam à nossa disposição para críticas e sugestões.
Uma alternativa para melhorar a prova seria inverter o percurso, o que já foi sugerido pelo Cléberson, que estava conosco no voo da Trip e foi o responsável pelo anti-doping, mas terminar em Itaipu certamente não tem o mesmo glamour das Cataratas e, talvez, o acesso à largada fosse mais complicado. De qualquer forma, comprei tantos perfumes (paguei R$ 23,00 em um, ao invés de R$ 120,00 que pedem aqui em Porto Alegre, por exemplo), que até mais ou menos 2014 não preciso voltar a Foz...
Uma vez, o Álvaro, meu amigão há 20 anos, me disse uma coisa que sempre lembro quando corro: correr tem que ser prazeroso. Não pode ser obrigação. Tem que trazer felicidade, alegria. Lamentavelmente, apesar de todo o esforço do staff da prova, Foz não tem como dar esse prazer. Foz e sofrimento são quase sinônimos. E aí não dá para voltar numa prova dessas. Não tão cedo, pelo menos. Não enquanto a memória lembrar dos 42km debaixo de céu de brigadeiro e com subidas que se repetiam e nunca terminavam.
Os resultados completos estão aqui.
** 169º lugar dentre os 294 homens. 200º lugar dentre os 356 bravos guerreiros que terminaram.
Vamos ver como foi a brincadeira, km por km:
km 01 -> 5:06 km 11 -> 5:13 km 21 -> 5:31 km 31 -> 6:12 km 41 -> 8:57
km 02 -> 5:46 km 12 -> 5:40 km 22 -> 5:08 km 32 -> 6:18 km 42 -> 7:00
km 03 -> 5:34 km 13 -> 5:37 km 23 -> 5:30 km 33 -> 7:05
km 04 -> 5:18 km 14 -> 5:26 km 24 -> 5:28 km 34 -> 6:45
km 05 -> 5:40 km 15 -> 5:30 km 25 -> 5:44 km 35 -> 6:19
km 06 -> 5:21 km 16 -> 5:29 km 26 -> 6:32 km 36 -> 6:48
km 07 -> 5:10 km 17 -> 5:40 km 27 -> 6:02 km 37 -> 6:26
km 08 -> 5:25 km 18 -> 5:35 km 28 -> 6:28 km 38 -> 6:14
km 09 -> 5:17 km 19 -> 6:25 km 29 -> 6:08 km 39 -> 8:39
km 10 -> 5:23 km 20 -> 5:43 km 30 -> 6:28 km 40 -> 8:32
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4 Comentários:
Ei, Júlio, se houve sofrimento, imagina a turma bem lá de trás, como eu. Mas vou voltar. Ano passado estava um tempo muito bom e hoje, segunda, um clima ideal para correr, então, quem sabe no ano que vem o sol dá um tempo. Creia, o problema foi o sol e não as subidas. O kit volta para BH mas chegará em suas mãos, fique tranquilo. No sábado não levei porque fui para o Paraguay antes de ir direto para o congresso técnico, desculpe a falha. Abraço. Miguel Delgado.
Rapaz, essa combinação sol/percurso difícil é sempre horrível. Uma pena o dia "lindo" - para tirar fotografia...
Quanto ao kit, não teve falha nada. Depois esqueci de passar no teu hotel. Quase no avião é que lembrei. Sem stress. Podemos combinar por email depois para tu me mandares por Sedex (depois da greve) que pago por aqui.
Grande abraço e até a próxima. (Curitiba?)
Julio: Este teu sentimento em relação a prova vai passar. Tenho certeza que em 2010 vamos nos encontrar lá. Eu também nao gostava de provas com muitas subidas, agora me divirto nelas. A dica é: não prever o mesmo tempo das provas planas, correr sem muita preocupação com o relógio. Quanto ao calor não tem jeito: é treinar no sol do meio dia. Abraço, Gabbardo
Pode ser, Gabbardo... Em 2002, disse "Curitiba, nunca mais" e 2 anos depois voltei.
Chega lá pert, aparece outra promoção boa de alguma cia aérea e o cara se pilha...
Eu, sinceramente, não senti tanto o calor. A minha questão mesmo foi a subida dentro do parque que não parava mais. Treinei subidas, mas não tinha noção de que a coisa era tão dura assim.
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