Dia 07 de setembro de 2008.
A prova em si foi dureza. A gente, não sei porque cargas d'água, encasquetou que ela era plana, ou seja, “fácil” para uma maratona. Tinha gente preocupada com o frio e o vento (e eles eram assustadores nas duas noites anteriores, mesmo para nós, gaúchos), tanto que saíram de mangas compridas, luvas e outros que tais.
Acho que foi uma decisão acertada da minha parte sair de mangar curtas, porque o tempo oscilou demais durante a maratona. Saímos debaixo de chuva e frio, vento bandido em alguns pontos e lá por 2h de prova o sol ameaçou dar o ar da sua graça, e nos poucos instantes em que ele apareceu, foi preocupante, porque veio com tudo.
No km 25, passávamos praticamente na esquina do nosso hotel. Parte da galera da minha equipe que havia corrido somente a rústica andava por lá, além dos acompanhantes de alguns maratonistas. 4 gurias que correram estavam também nas bikes dando apoio e tirando fotos.
A gente tem que tirar o chapéu para isso, para quem dá suporte. Ajuda muito.
Me arrependi de não ter pego nada naquela hora quando uma delas me ofereceu, porque ela só foi aparecer novamente depois no km 35. Muita coisa muda em 2km numa maratona na parte final da prova. A gente cansa e a energia simplesmente some. Não vem aviso prévio.
Fiz a prova com o meu amigo até o km 32, 33, mas não tinha treino suficiente para acompanhá-lo. Havia treinado apenas um dia 28km e outro 35, que eu fiz mais para ter certeza que eu não iria fazer fiasco na maratona. No mais, não consegui treinar mais que 14. Acho que algumas questões externas deviam estar influenciando e tirando o meu foco.
Quando a loirinha da bike me reencontrou no km 35, disse: “Bah, Júlio, me matei para te alcançar aqui.” Depois da prova disse que se sentia como se houvesse completado a maratona também. E é bem assim. A gente se sente parte integrante da vitória pessoal de cada um. Ela foi lá no pessoal mais lento, depois voltou em mim.
Isso é desgastante, sei bem como, porque fiz aqui em Porto Alegre. A gente quer chegar logo em todo mundo e pedala como se o mundo fosse acabar logo ali na frente. Ela me reanimou com Gatorade e aquele sorrisinho, até que teve que seguir viagem em busca do pessoal que estava ainda mais à frente. Engraçado foi ela contando que tinha tirado uma foto só da minha barriga. Depois da prova disse que não saiu a testa na outra e então a gente se matava rindo que a terceira é que iria conseguir juntar com as outras duas para dar uma. Parece simples, mas é preciso passar de bike pela pessoa que está correndo, parar bem mais adiante, descer, ligar máquina correndo e fotografar. Homens e loiras têm dificuldade.
Os uruguaios foram super receptivos conosco. Se esforçaram ao máximo para oferecer uma boa prova, com muita, muita hospitalidade. Nas ruas havia várias pessoas gritando Porto Alegre (escrito na nossa camiseta) ou Brasil. E, antes da largada, até tocaram o hino nacional, homenageando-nos pelo 7 de setembro. Isso praticamente anula os pequenos erros técnicos da prova, como servir água em copos abertos e de 5 em 5km, e os 200m a mais.
A boa notícia foi que terminei em 3h35, mais ou menos o que eu esperava. A má notícia depois da prova foi que tive fratura por estresse no terço proximal do fêmur e só retornei aos treinos, uns 10 kg mais pesado, semana passado, mais de 3 meses depois do ocorrido.
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